Che le città avessero personalità e carattere come gli esseri viventi, non ci avevo mai pensato. Me ne accorsi a Salvador da Bahia negli anni Ottana. Uscivi di casa e la città ti mostrava come si era svegliata quel giorno: allegra, gloriosa e piena di poesia, oppure triste, miserabile, arrabbiata. Come una persona un po’ lunatica, ti sbatteva in faccia l’umore del giorno. Non solo a me, a tutti. “Oggi si è svegliata bene”, sentivi dire sull’autobus pieno di vento di fronte a un portentoso arcobaleno sul mare. Una sensazione mai provata, animista, che riconosce a quella brulicante formazione urbana un’anima viva, cangiante. Nessun luogo del mondo ha contribuito di più alla mia formazione come questa città del Brasile. Per quanto anniversari e commemorazioni possano sembraci ricorrenze fittizie, per i brasiliani il compleanno rimanda a qualcosa di sacro, alla celebrazione della vita. Non è quindi il caso di una baia, che il 29 marzo del 1549 fu scelta dal militare portoghese Tomé de Sousa, come sede del Governo Generale della Colonia Portoghese del Brasile, del quale fu il primo governatore. Ma da quel momento possiamo parlare di città. Fatta a immagine e somiglianza di Lisbona per legittimare anche con l’architettura che ne fosse il prolungamento altr’oceanico, ma una città che Tomé e i suoi governanti non avrebbe mai potuto immaginare. Il più importante approdo per le navi negriere dalle quali uscirono milioni di vite africane che fecero un buon lavoro per forgiarne i connotati. Un luogo dove persino il tempo si dilatava e si restringeva a seconda delle tue necessità, dove incontravo un fratello per sempre, ma potevo anche ritrovarmi di fronte inaspettate parti di me che proprio non conoscevo, dove la dea del vento mi prendeva per mano e mi faceva dimenticare di essere gringa, per portarmi fino al cuore africano delle danze sacre, o al centro della favela alagados, o sulla spiaggia di Cetano, a casa di Gil, sotto l’albero di manghi nel giardino di Zélia e Jorge Amado. La città, “dove chiamare qualcuno “negro” è sintomo di stima e anche di affetto”, come scriveva il parigino dagli occhi azzurri Pierre Verger, e dove il pittore Carybé avrebbe voluto nascere “non ho avuto questo privilegio, mia signora” rispondeva a una giornalista che chiedeva se fosse nato a Bahia. La città dello svelamento, per me. Quando mi vidi, sola con la mia gonna rossa, negli occhi della bambina con la girandola che avrebbe moltiplicato il suo sguardo dalla copertina della rivista Atlante, la prima che pubblicò un mio reportage. Auguri, amata città, dove io stessa rinacqui, Axé!
Salvador da Bahia em seus 474 anos
Que as cidades tivessem personalidade e caráter como seres vivos, eu nunca havia pensado antes. Percebi isso em Salvador da Bahia na década de oitenta. Você saia de casa e a cidade te mostrava como acordou naquele dia: feliz, gloriosa e cheia de graça, ou triste, miserável, revoltada. Como uma pessoa ligeiramente mal-humorada, ele batia o humor do dia na sua cara. Não só na minha, em todos. “Hoje ela acordou bem”, se ouvia dizer no ônibus cheio de vento diante de um prodigioso arco-íris sobre o mar. Uma sensação animista nunca antes experimentada, que reconhece uma alma viva e iridescente naquela fervilhante formação urbana. Nenhum outro lugar no mundo contribuiu para a minha formação como esta cidade do Brasil. Embora as comemorações possam nos parecer fictícias, para os brasileiros o aniversário se refere a algo sagrado, à celebração do nascimento da vida. Não é, portanto, o caso de uma baía, que em 29 de março de 1549 foi escolhida pelo soldado e politico português Tomé de Sousa, como sede do Governo Geral da Colônia Portuguesa do Brasil, da qual foi o primeiro governador. Mas a partir desse momento podemos falar de cidade. Feita à imagem e semelhança de Lisboa, para legitimar também com a arquitetura qual a sua extensão do ultramar, mas se revelou como uma cidade que Tomé e os seus governantes jamais poderiam imaginar. O mais importante porto de desembarque de navios negreiros de onde emergiram milhões de vidas africanas que souberam forjar suas características de forma inesperada. Um lugar onde até o tempo se dilatava e contraía de acordo com suas necessidades, onde conheci um irmão para sempre, mas também onde pude me encontrar diante de partes desconhecidas de mim, onde a deusa do vento me pegou pela mão e me fez esquecer que eu era gringa, para me levar ao coração africano das danças sagradas, ou ao centro da favela dos alagados, ou na praia do Cetano, na casa do Gil, embaixo da mangueira no jardim da Zélia e do Jorge Amado . A cidade “onde chamar alguem de negro é sintoma de estima e também de afeto”, como escreveu o parisiense de olhos azuis Pierre Verger, e onde o pintor Carybé gostaria de ter nascido “não tive esse privilégio , minha senhora”, respondeu a uma repórter perguntando se ele era baiano. A cidade da revelação, para mim. Quando me vi, sozinha com minha saia vermelha, nos olhos da menina do cata-vento que teria multiplicado seu olhar desde a capa da revista Atlante, a primeira a publicar uma minha reportagem. Muitas felicidades, cidade amada, onde eu mesma renasci, Axé!